Gravidade
09:54São Paulo estava no transito caótico de fim de tarde, e nem
mesmo as buzinas afastavam os meus pensamentos. Nesse caso, o pensamento tinha
nome e sobrenome. Desci do ônibus o mais rápido possível, qualquer coisa era
melhor que ficar pateticamente pensando em você. Até mesmo os dois quilômetros
que faltavam para chegar em casa.
A brisa trouxe momentos que me acompanharam durante a
caminhada e, ao passar por uma rua, um novo pensamento surgiu.
A verdade é que nos dois precisávamos vivenciar aquilo. Mais
uma lição para mim, talvez um modo de crescer para você, um amadurecimento de
ambas as partes. É, naquele dia aconteceu a quebra de um laço que nunca
existiu, a libertação de algo que nunca nos pertenceu. Mas algo interrompeu a
conclusão do meu pensamento. Você, me chamando do outro lado da rua, vestindo
aquela camiseta que eu te dei no último aniversário, All Star e calça jeans
combinando com o seu sorriso despreocupado. Você atravessou correndo, me deu um
abraço forte e eu percebi que você tinha mudado de perfume. Confesso que esse
combina melhor com a sua personalidade. Senti uma sensação estranha, e sabia
que tinha que manda-la embora rapidamente. Decidi ir para casa, mas você disse
que só deixaria se eu prometesse te encontrar depois. Fechado.
Cheguei em casa pior do que quando tinha descido do ônibus,
quase tendo um ataque por pensar tanto. Larguei a mochila, taquei o tênis de
lado e corri para o chuveiro. Fiquei um tempo lá e depois comecei com aquela
velha rotina: tirar tudo do guarda roupa pra acabar escolhendo o primeiro
vestido que tinha tirado, me maquiar por meia hora, secar o cabelo. Decidi
passar um perfume diferente, só pra você odiar e eu não manter falsas
esperanças. E nessa hora a campainha tocou. Nós e o nosso timing.
Saímos e passamos por aquela praça que sempre íamos para
conversar, coisa que já não fazíamos há algum tempo. Apesar do meu coração
disparado negar isso. E por um segundo eu jurei que esse tempo não havia
existido, que você tinha o cabelo jogado pro lado e que eu ainda roía unhas.
Você perguntou se estava tudo bem e eu apenas sorri. Você sorriu de volta e
logo estávamos dando risada um do outro. Tudo isso era pra ser tão fácil, nos
devíamos estar tagarelando sem pausas para respirar, mas ainda não tínhamos
dito uma única palavra. Então você quebrou o silencio e começou a contar o que
tinha feito durante esse tempo e eu também. Inevitável não imaginar como seria
se eu estivesse ao seu lado nessas situações. Comecei a falar também e não sei
o porque nos calamos. Droga, passei o
perfume que você gostava! Olhamos novamente um para o outro, mas sem
sorrisos desta vez. Olhos, mãos, boca. Eu sei o quão idiota é falar isso, mas
eu senti o mundo sumir ao nosso redor. Mas isso não significava que tínhamos
voltado no tempo. Caminhamos lado a lado, vimos um amigo...ou seja, o colégio
inteiro saberia no dia seguinte. Mas eu não me importava. Eu só queria
aproveitar tudo antes que o dia terminasse e tudo voltasse a ser como de manhã.
Durante as duas horas eu esqueci minha prova de inglês, meu dentista de manhã
cedo e até mesmo onde eu morava. Ainda bem que você sabia.
Dei uma longa olhada no seu rosto para fixa-lo na minha
memória, te dei um abraço e mais um beijo. Desta vez doeu bem mais que o
primeiro, por causa das incertezas do nosso futuro. Entrei e corri para o meu
quarto, pra ver você descendo a rua com as mãos no bolso. E então eu percebi
que tudo voltaria a ser como antes, seja com nós juntos ou separados. Porque
tem alguma coisa no universo que sempre irá se encarregar disso. E, algum dia, essa
historia ainda terá o final feliz que tanto ouvimos falar.
4 comentários
E cade o #CheckingTheWeek dessa semana?
ResponderExcluirEstou preparando agora, fica de olho que daqui a pouco eu posto (:
ExcluirMuito bonito! Peguei o link no seu tweet pra @brunavieira e não resisti :)
ResponderExcluirObrigada *-* hihi
Excluirbeijinhos